A gestão de resíduos, desde a coleta até a destinação final, é essencial para se alcançar o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável de “Consumo e produção responsáveis” (ODS 12), e evitar ameaças ao meio ambiente e à saúde pública. Estudo recente da consultoria SF2Partners com dados do relatório Global Waste Management Outlook 2024 (GMWO2024), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), estimaram que o impacto das deficiências na gestão de resíduos na saúde e no ambiente no Brasil tenham sido da ordem de R$ 97 bilhões em 2020.
Desde 1987, a ABNT NBR 10004 é a base técnica utilizada pela cadeia de valor envolvida no gerenciamento de resíduos para classifica-los quanto sua periculosidade. A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) tem a honra de promover, no dia 27 de novembro de 2024, das 17h às 18h, em parceria com Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) e Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema), o lançamento da nova edição da ABNT NBR 10004 Partes 1 e 2, Resíduos Sólidos – Classificação.
A atualização da ABNT NBR 10004, desenvolvida no âmbito do Comitê Técnico de Gestão de Resíduos Sólidos e Logística Reversa (ABNT/CEE-246), revisitou o processo de classificação dos resíduos, incorporando os avanços no âmbito global na gestão de resíduos e substâncias químicas. Como resultado, a nova versão da ABNT NBR 10004 será dividida em duas partes: a primeira, ABNT NBR 10004-1, tratará do processo de classificação em si, enquanto a ABNT NBR 10004-2 abrigará o Sistema Geral de Classificação de Resíduos (SGCR), que é o conjunto de dados usados para a realização da classificação. Neste novo formato apresentado pela ABNT NBR 10004, o SGCR passa a ser atualizado periodicamente, a cada dois anos, mais uma grande inovação trazida pela norma.
A atualização da ABNT NBR 10004 marca um avanço na classificação de resíduos sólidos, promovendo uma gestão mais ágil e alinhada com as melhores práticas globais, ao mesmo tempo em que reforça o compromisso com a sustentabilidade ambiental e a proteção da saúde pública no Brasil.
O SGCR terá uma das mais completas lista de resíduos do mundo, uma vez que atualiza e amplia as informações da “Lista Brasileira de Resíduos Sólidos”, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama). Outro ponto relevante do SGCR é a incorporação de uma vasta relação de substâncias conhecidamente tóxicas, comumente chamada de “Lista de Substâncias Harmonizadas”. Essa lista será a primeira publicada numa norma técnica no Brasil e disponível na língua portuguesa, e irá relacionar cerca de 5.000 substâncias, com a identificação de suas características de periculosidade. A importância dessa lista vai além da classificação dos resíduos, no momento que o Brasil está criando seu Inventário Nacional de Substâncias Químicas.
A revisão ABNT NBR 10004 resultará em maior agilidade no processo de classificação, uma vez que algo como a metade dos tipos de resíduos poderão ser classificados como “perigosos” ou “não perigosos” diretamente, com base nas informações de sua origem. A norma também incluirá os Poluentes Orgânicos Persistentes (POP) como critério de classificação, de maneira clara e objetiva.
Os critérios de classificação de resíduos quanto à sua periculosidade permanecerão os mesmos, alinhados com que é previsto em legislação, mas o formato mudará de maneira considerável. O procedimento de classificação quanto à toxicidade passará a se basear nas concentrações das substâncias presentes no resíduo, e não mais em ensaios de lixiviação e solubilização.
Portanto, o lançamento da norma ABNT NBR 10004, versão 2024, será um marco na normalização brasileira ao disponibilizar para a operadores de resíduos uma solução baseada no estado da arte das práticas de gerenciamento dos resíduos, alinhada com a crescente preocupação da sociedade com as questões ambientais e o desenvolvimento sustentável, promovendo assim a conservação dos recursos naturais e contribuindo para a proteção da saúde humana e do meio ambiente.
(*) Mario William Esper é presidente da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e colunista do Blog Ambiental.